CAPÍTULO X - DA LEI DE LIBERDADE - Liberdade de consciência
842. Por que indícios se poderá reconhecer, entre todas as doutrinas que alimentam a pretensão de ser a expressão única da verdade, a que tem o direito de se apresentar como tal?
“Será aquela que mais homens de bem e menos hipócritas fizer, isto é, pela prática da lei de amor na sua maior pureza e na sua mais ampla aplicação. Esse o sinal por que reconhecereis que uma doutrina é boa, visto que toda doutrina que tiver por efeito semear a desunião e estabelecer uma linha de separação entre os filhos de Deus não pode deixar de ser falsa e perniciosa.”
Dando início a este fórum sobre "O Livro dos Espíritos", gostaria de iniciar com o comentário e reflexões sobre a pergunta n. 842, uma das minhas favoritas desta grande obra, para tanto sugiro a leitura do texto abaixo para contextualização:
Existe Deus?
Conta-se que Buda, o grande líder religioso, estava reunido com seus discípulos certa manhã, quando um homem se aproximou e perguntou: Existe Deus? O mestre penetrou no olhar do desconhecido por alguns segundos e respondeu objetivamente: Sim, Deus existe. O tempo passou e, após o almoço, um outro homem se acercou do sábio e questionou: Existe Deus? Buda fitou o homem rapidamente, e logo lhe respondeu: Não, não existe. Ao final da tarde, então, uma terceira pessoa se achegou a ele, e lhe fez a mesma pergunta: Mestre, existe Deus? O sereno e experiente sábio procurou os olhos do questionador, e explicou: Você é quem irá decidir. O homem se afastou pensativo e logo os discípulos de Buda lhe exigiram satisfações: Mestre, que absurdo! - Disse o mais surpreso deles. - Como o senhor dá respostas diferentes para a mesma pergunta? Com paciência e tranquilidade, respondeu então o Iluminado: Porque são pessoas diferentes! E cada uma delas se aproximará de Deus à sua maneira: através da certeza, da negação e da dúvida.
Momento Espírita, com base em texto do livro Maktub, de Paulo Coelho, ed. Rocco
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Comentário da Redação do "Momento Espírita":
O fundador do Budismo estava certo: somos pessoas diferentes, almas que já viveram as mais diversas experiências através das inúmeras existências. Assim, cada um de nós irá se aproximar da verdade de forma diversa. E esta é uma das razões pela qual encontramos no mundo religiões diferentes, crenças distintas e as mais diversas formas de interpretar a verdade. Cada uma dessas interpretações aplica-se a um grupo de Espíritos, conforme suas necessidades naquele momento da sua evolução. É por essa razão que não podemos criticar as crenças que divergem da nossa (grifo nosso), pois cada um encontrará a verdade de uma maneira e cada um encontrará a religião, a doutrina que lhe preencha a alma, que o complete, que o console. Não podemos jamais ter a pretensão de que a nossa seja a melhor crença. Ela é a melhor para nós, para os nossos anseios, para as nossas necessidades pessoais, mas nunca teremos o direito de impor, de converter alguém à força, à doutrina que abraçamos. É muito importante lembrar da lição de Buda, que nos convida à reflexão e à mudança de atitudes em relação à liberdade de crença. Cada um de nós se aproximará de Deus à sua maneira: através da certeza, da negação, ou da dúvida.
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Meu Comentário:
O que mais me fascina nesta pergunta e principalmente na resposta dos espíritos, é que nem mesmo eles afirmaram que o espiritismo, ou qualquer outra religião, poderia ser considerada a "expressão única da verdade", isso porque não ficaram "circunscritos" à forma (religiões) ou à contemplação dogmática (a fé sem a obra) e sim à essência do verdadeiramente bem viver da criatura humana em consonância com as leis universais (homem de bem - amor a Deus e ao Próximo).
Outro detalhe importante é que tão pouco Kardec, o "bom senso encarnado", tendenciou a resposta dos benfeitoers espirituais à doutrina por ele codificada, demonstrando com isso a seriedade do seu trabalho.
Cada vez mais me convenço que as religiões constituem "meio" e não "fim" no religare da criatura ao criador, e fico profundamente entristecido quando religiosos das mais diversas denominações se digladiam como se a sua crença fosse a máxima expressão da verdade, gerando atos de intransigência e intolerância entre seus adeptos.
Penso que os entendimentos religiosos e até mesmo as ciências tendem ao Universalismo, onde em fim, "haverá um só rebanho".
Segue abaixo o link com o áudio dessa bela mensagem do Momento Espírita:
Deixe também o seu comentário sobre a pergunta n. 842 de "O Livro dos Espíritos"
Ainda sobre a pergunta nº 842, encontrei este comentário do Espírito Miramez e concordo plenamente , o maior sinal pelo qual podemos reconhecer se uma doutrina é boa e verdadeira, é aquela que ensina a amar mais, a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
COMENTÁRIO DO ESPÍRITO MIRAMEZ NA OBRA “FILOSOFIA ESPÍRITA:
Para que possamos reconhecer uma doutrina como boa, basta verificarmos seus preceitos e os seus componentes. Aquela doutrina, ou mesmo filosofia espiritualista, cujos profitentes amarem mais, essa doutrina é respeitável e será colocada como fonte de fraternidade. Os filhos de Deus se unem por sentimentos dotados da verdade e de paz. Poderemos reconhecer os verdadeiros discípulos de Jesus por muito se amarem.
A religião, no entanto, que gasta o seu tempo precioso em combater outras religiões, que persegue e calunia outras crenças, essa religião é, pelo seu caráter, perniciosa, e se encontra afastada do Evangelho de Jesus.
Não queremos dizer que a Religião Espírita é a melhor. Os Espíritos benfeitores da humanidade, quando escreveram que fora da caridade não há salvação, dão prova de que eles mesmos não estavam escolhendo religião, mas sinceridade de ação. O que é caridade? É amor. Portanto, fora dessa virtude não há salvação, porque Deus criou o amor, para depois criar tudo o que existe e que possamos conceber.
O único sinal pelo qual podemos reconhecer se uma doutrina é boa e verdadeira, é aquela que ensina a amar mais, a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Melhor seria dizer, amar a Deus em todas as coisas, por ser Deus tudo para nós, seres criados por Ele por amor. E se queremos sentir Deus mais de perto, Paulo nos ensina, falando aos Romanos, no capítulo treze, versículo treze:
Andemos dignamente como em pleno dia, não em orgias e bebedeiras, não em impudicícias e dissoluções, nem em contendas e ciúmes.
É por esses meios que vamos reconhecendo o verdadeiro crente, aquele que não precisa que se lhe faça imposição para ter uma vida reta. Ele mesmo descobre o seu caminho, vendo e sentindo que deve mudar os seus pensamentos para melhor, do modo pelo qual Jesus nos ensinou.
O homem de bem do futuro vai pensar e falar, vai falar e escrever o que fala, sem nenhuma restrição, por estar integrado na verdade e no amor.
Toda doutrina que tiver por efeito semear a desunião, ela não é boa; os Espíritos da discórdia e da má fé ali estão, inspirando seus dirigentes. Se eles pretendem defender a verdade da qual se acham dotados, essa verdade é falsa, porque Deus é a verdade e não precisa de defesa humana. Basta que os que pensam estar com a verdade, vivam-na em silêncio, que ela se irradia em todas as direções, acendendo luzes e deixando o amor, em suas múltiplas formas do bem.
As religiões que desejarem melhorar, devem entender que Deus não é carrasco; Ele espera que todos compreendam, mudando suas normas de viver. É somente se concentrarem nestas palavras com interesse:
Deus é amor.
Se Ele é amor, como nos falou João, o Evangelista, o que devemos fazer? Amar permanentemente em todas as direções da vida... Todo aquele que queira se levantar contra Deus, já deixou de viver, porque a vida é Deus.